
Os viajantes admiram o percurso. Aquilo que liga às coisas, que se interpõe, que fica no meio. Não se detêm nas chegadas e nas partidas. Admiram o tempo que as coisas demoram a ser, a conhecer e a gostar mesmo que isso pareça «nada».Como o silêncio que faz o compasso da música, como a sombra que desenha a luz, como o risco preto que rouba ao branco, também o vazio revela o cheio e lhe confere um valor íntegro e precioso...

O ÔCO é um lugar. As paredes são as vírgulas e as pontuações das coisas que queremos dizer. Não se escreve apenas com pontos e com vírgulas. Acho por isso que deveria ser possível prescindir delas e comunicarmos apenas pela ideia do sujeito e do predicado. Claro que este esforço obriga a um conhecimento profundo da ideia por detrás das forma ao ponto da forma já não ser essencial...

O Século XX mostrou-nos o lugar poético da ausência, dos quadrados pretos de Malevitch, das «Noites Brancas» de Rauchenberg, dos «4’ 33» de John Cage. Mas e a vida? Chegará a arte a tocar-nos a alma por um segundo? Num mundo do hiperconsumo da imagem, sempre incompreendemos os vazios. Na vacuidade dos discursos dos curadores e dos académicos, a vida esboroa-se. O silêncio confinante perturba-nos e asfixia-nos. É urgente voltar às coisas simples e quotidianas e reencontrar ...